Resumo aos leigos
Esta foi uma carta enviando a Revista Brasileira de Anestesiologia abordando a mortalidade da raquianestesia e da anestesia peridural quando a cirurgia é realizada na metade inferior do corpo. embora existam muitas pesquisas nesta área, praticamente não se consegue ver uma mortalidade maior que 5% e isto é muito bom porque vendo pelo outro lado 95% das pessoas que recebem anestesia na coluna saem vivas. Trocando as palavras para cada 20 pacientes operados haveria uma chance, disse chance e não fato ou morte, de 1 paciente vir a falecer.
E quando se diz chance se fala em probabilidade e não em certeza.
Carta ao editor-chefe da Revista Brasileira de Anestesiologia
Existe
Diferença de Mortalidade da Anestesia Neuroaxial Quando Comparada a Anestesia
Geral para Procedimentos Cirúrgicos Abaixo da Cicatriz Umbilical?
Prezado
editor-chefe,
O debate
sobre a influência da escolha da técnica anestésica sobre a mortalidade nas
cirurgias realizadas na metade inferior do corpo permanece ainda nos dias de
hoje. Apesar da discordância que existe entre os clínicos a maioria concorda
que múltiplos fatores possam influenciar a taxa de mortalidade, tais como:
presença de comorbidades, porte da cirurgia, o método de anestesia escolhido e
a qualidade do atendimento perioperatório prestado. 1 Algumas
pesquisas têm sido feitas na tentativa de elucidar a influência da escolha da
técnica anestésica neste cenário considerando e medicina baseada em evidências. 2-4 Os
ensaios clínicos randomizados podem trazer respostas definitivas a perguntas de
pesquisa que envolvam intervenções e as revisões sistemática podem auxiliar na
identificação das melhores evidências até determinado momento assim como
orientar futuras pesquisas. 5
Rodgers
et al. analisaram 141 estudos incluindo 9559 pacientes e constataram que a
mortalidade pode ser até 30% menor a favor da anestesia neuroaxial.2 Algumas
críticas devem ser feitas: a análise incluiu pacientes que receberam anestesia
para cirurgias acima da cicatriz umbilical, diversas especialidades cirúrgicas
foram analisadas com pacientes submetidos a cirurgias de especialidades diferentes
e foi utilizada analgesia peridural por pelo menos 24 horas após o
procedimento. Estas considerações impedem que os resultados sejam generalizados
e reforçam a importância de que estudos mais individualizados sejam realizados
para responde definitivamente a pergunta.
Os
pacientes submetidos à cirurgia vascular foram analisados em uma revisão
sistemática demonstrando que a incidência de pneumonia no grupo submetido à
anestesia geral foi maior, porém sem impacto significativo na mortalidade que
não mostrou diferença entre os grupos de análise. 3
Os
pacientes submetidos à cirurgia urológica foram avaliados numa revisão
sistemática realizada e publicada no Brasil.4 As drogas
utilizadas, as técnicas anestésicas escolhidas e as variáveis analisadas foram
diferentes entre os estudos selecionados impossibilitando a realização dos
cálculos de metanálise. A mortalidade foi analisada em três estudos. 6-8 Em
um estudo os resultados não foram apresentados porque o desfecho foi analisado
como variável secundária.6 Em dois estudos não houve diferença
entre os grupos analisados. 7,8
Os
pacientes submetidos à cirurgia ortopédica estão sendo analisados em pesquisa
ainda não concluída, porém os dados de ensaios clínicos aleatórios publicados
até o momento parecem ser conflitantes e as revisões sistemáticas existentes
estão desatualizadas tendo em vista o surgimento de novos fármacos. 9
A
diferença de mortalidade da anestesia neuroaxial quando comparada a anestesia
geral para procedimentos abaixo da cicatriz umbilical ainda não está
estabelecida e a resposta a esta pergunta de pesquisa ainda não é definitiva.
São necessários mais ensaios clínicos randomizados considerando número
suficiente de participantes e adequado tempo de seguimento após o procedimento
cirúrgico. A escolha da técnica anestésica dependerá do bom senso do
profissional perante cada situação clínica.
Atenciosamente,
Referências
1. Gulur P,
Nishimori M, Ballantyne JC - Regional anaesthesia versus general anaesthesia,
morbidity and mortality. Best Pract Res Clin Anaesthesiol, 2006;20(2):249-263.
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Walker N, Schug S et al - Reduction of postoperative mortality and morbidity
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2000;321:1–12.
3. Barbosa FT, Jucá MJ, Castro AA, Cavalcante JC.
Neuraxial anaesthesia for lower-limb revascularization. Cochrane Database of Systematic Reviews. Em: The
Cochrane Library, Volume 11. DOI: 10.1002/14651858.CD007083.pub1
4. Barbosa FT, Castro AA - Neuraxial anesthesia
versus general anesthesia for urological surgeries: systematic review. Sao
Paulo Med J, 2013; em processo de publicação.
5. Barbosa FT, editor. Introdução a Revisão
Sistemática: A Pesquisa do Futuro. [livro na Internet]. 2013. [Acesso em: 20
fev 2013]. Disponível em: http://bit.ly/lrs01.
6. Brown DR,
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prostatectomy: a prospective, randomized, controlled trial. Anesthesiology,
2004;100(4):926-934.
7. Shir Y, Raja
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postoperative pain and analgesic requirements in patients undergoing radical
prostatectomy. Anesthesiology, 1994;80(1):49-56.
8. McGowan SW,
Smith GF - Anaesthesia for transurethral prostatectomy. A comparison of spinal
intradural analgesia with two methods of general anaesthesia. Anaesthesia,
1980;35(9):847-853.
9. Barbosa FT,
Castro AA. Mortality frequency of the neuraxial anesthesia compared to general
anesthesia for orthopedic surgeries: systematic review. PROSPERO
2012:CRD42012002678. Disponível em:
http://www.crd.york.ac.uk/PROSPERO/display_record.asp?ID=CRD42012002678.
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